Apesar da Embraer ser um exemplo de sucesso para a economia brasileira, em geral o restante de nossa indústria aeroespacial ficou para trás. Se compararmos com os setores aeroespaciais do Canadá por exemplo, e de outros países europeus, vê-se que ao Brasil falta o suporte que poderia ser oferecido por fornecedores de pequeno e médio porte. A Embraer tem se limitado a servir-se das empresas locais apenas para a fabricação de componentes mais simples, e quando se trata do desenvolvimento de sistemas e sub-sistemas mais importantes, a empresa brasileira tem buscado parcerias e fornecedores estrangeiros.
Embora o crescimento da também subsidiária da Embraer e da Eurocopter, a Helibrás, tenha feito com que uma boa quantidade de fornecedores globais se instalassem no Brasil, incluindo a General Electric, Turbomeca e Latecoere, tem sido muito poucas as “start-up”‘s locais. Isso em parte talvez se deva à herança estatal da Embraer, e em parte ao fato de a empresa ter tido a necessidade de superar vários desafios tecnológicos ao longo dos anos por conta própria. Com isso, ao invés de alimentar a indústria local, foi necessário que a Embraer buscasse fornecedores experientes e bem capitalizados que embarcassem em projetos ambiciosos como o dos E-Jets e dos jatos executivos brasileiros.
Segundo Walter Bartels, diretor da Associação Aeroespacial Brasileira (AIAB), “… embora a Embraer tenha contribuído ao desenvolvido da abordagem de distribuição dos riscos – com empresas globais fornecendo inteiros sistemas – isso significa que a rede de fornecedores locais é muito fraca”, disse. E complementa: “… exceto por algumas empresas, a atividade aeroespacial não é um dos setores mais fortes da economia [brasileira]”.
Mas esse cenário pode estar prestes a mudar. Graças a uma iniciativa entre a Embraer e a Força Aérea Brasileira no sentido de encontrar fornecedores locais para a aeronave de transporte militar e de reabastecimento KC-390, que está sendo desenvolvida para a Força Aérea Brasileira. Aproximadamente 80 empresas compareceram a um workshop no ano passado em São José dos Campo, cidade sede da Embraer. O governo brasileiro quer que o “índice de nacionalização” da aeronave seja de 80% do seu valor, excluindo os motores.
Embora os fornecedores estrangeiros dominem até então a lista de sistemas mais importantes do KC-390, duas empresas brasileiras foram selecionadas: A AEL Sistemas, uma subsidiária da empresa de defesa israelense Elbit – que é responsável, entre outras coisas, pelos sistemas de defesa da aeronave e pelo HUD – e a Eleb, de propriedade da Embraer e que fornecerá os trens de pouso. Alguns de seus sub-contratos podem, consequentemente, alimentar fornecedores menores.
Uma das mais bem sucedidas “star-up”‘s do setor aeroespacial brasileiro tem sido a Akaer, uma empresa de projetos de engenharia de São José dos Campos fundada em 1992. Embora a maior parte de seu trabalho até então tenha sido para alimentar aquele da Embraer em projetos como o dos jatos executivos Legacy 450 e 500, a empresa se envolveu também com as atividades espaciais brasileiras e ganhou contratos de fornecedores da Airbus e Boeing para o A380, o A400M e para o 747-8. Ela também é parte de um consórcio brasileiro trabalhando no caça da SAAB Grippen NG, um dos candidatos favoritos à renovação da frota de caças do Brasil.
Os numeros de postos de trabalho no setor aeroespacial brasileiro, que chegou a 22.600 em 2010 de acordo com a AIAB, estão crescendo de novo na medida em que os projetos da Embraer ganham impulso. Como em outros países, este número caiu após um máximo de 27.100 em 2008, mas ainda mostra um crescimento substancial durante a década, começando com 15.000 em 2001. A movimentação financeira do setor aeroespacial brasileiro demonstra um crescimento ainda maior, de US$ 2,5 bi em 2003 até quase US$ 7,6 bi em 2008, caindo para US$ 6,7 bi em 2010.
Certamente, as empresas de pequeno e médio porte do setor aeroespacial brasileiro podem aumentar bastante esses números nas décadas porvir.
Traduzido e adaptado do original em FlightGlobal.