As fissuras na asa do Airbus A380 são o resultado da combinação de uso de novas tecnologias com insuficiente controle do projeto, o que tem levado a um aumento vertiginoso dos custos de reparo, admitiu o CEO da Airbus Tom Enders.
“Isto é algo que não estava previsto”, acrescenta, se referindo ao período de 10 anos em que os projetistas se esforçaram em tornar a asa do A380 mais leve, usando fibra de carbono e metais. “Nos acreditávamos compreender as propriedades do material e da interface entre fibra de carbono e metais, e descobrimos da pior maneira que não sabíamos tudo”.
As fissuras forçaram a Airbus a gastar mais de US$ 250,00 mi em despesas de reparo, e a empresa disse este mês que fazer os acertos necessários à aeronave dará bastante trabalho à Airbus nos próximos anos, que está revendo sua agenda de entregas para este ano. Segundo a empresa, entregar mais de 30 unidades da maior aeronave de passageiros que existe ainda este ano será um desafio.
Ao mesmo tempo em que correr riscos com novos materiais e projetos é uma necessidade no mundo da aviação comercial, a Airbus não teve o controle necessário para antecipar falhas potenciais, disse Enders a jornalistas nesta quinta, durante uma coletiva à imprensa em Toulouse na França, sede da Airbus.
A European Aeronautics Defence & Space Corporation (EADS), da qual a Airbus é subsidiária, disse na semana passada que os custos em 2012 para o conserto permanente na asa do A380 chegaria a um total de € 260 milhões, e que haveriam outros custos no futuro.
Segundo a Airbus, a falha se deve à escolha de ligas de alumínio menos flexíveis usadas para fazer o suporte da asa da aeronave, além do modo como os fixadores foram colocados nos furos e os estresses envolvidos na junção das partes da asa.
Uma solução de curto prazo foi aplicada a aproximadamente um terço da frota de 74 A380’s em serviço hoje. Essa solução será aplicada às outras aeronaves na medida em que o numero de pousos e decolagens atingir o limite para manutenção determinado pela legislação.
A Airbus já reprojetou a asa de modo tal que elimine a ocorrência de futuras fissuras, e a empresa está trabalhando com a European Aviation Safety Agency (EASA) para obter a aprovação. Mas o novo design não fará parte das novas aeronaves antes de 2014, disse Tom Williams, vice-presidente executivo de projetos da Airbus.
Até lá, acrescentou, os A380’s hoje em operação precisarão de reparos que são muito mais complexos e demandam muito mais tempo. Essas alterações podem ser feitas após a finalização da construção de cada aeronave, ou durante a manutenção depois de 2 ou 4 anos de operação, o que está em negociação com as linha aéreas.
“Tenho certeza que o A380 sobreviverá a isso, assim como outros projetos no passado, mas esta falha tem causado um prejuízo significativo ao orçamento da empresa, e tenho medo que também à sua reputação”, disse Enders.
O problema foi detectado no princípio deste ano. O início das operações do modelo foi marcado por muitos problemas de montagem, que por muito tempo causaram prejuízos para a EADS. O primeiro incidente grave envolvendo um A380 ocorreu no final de 2010 após a explosão de um motor Trent 900 da Rolls-Royce em uma aeronave da Qantas Airlines em 4 de novembro obrigou a aeronave a fazer um pouso de emergência em Cingapura.